Arquidiocese de São Luís do Maranhão

VIII Dia Mundial dos Pobres: “A oração do pobre eleva-se até Deus”

A criação do Dia Mundial dos Pobres foi anunciada pelo Papa Francisco no encerramento do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, em novembro de 2016. Em sua Carta Apostólica Misericordia et Misera, o Papa expressou o desejo de que a Igreja inteira dedicasse um dia especial para refletir e agir em favor dos mais necessitados. Este Dia Mundial dos Pobres é celebrado anualmente no penúltimo domingo do Ano Litúrgico, oferecendo a cada cristão a oportunidade de ouvir e responder ao “grito dos pobres”,
como um chamado à conversão e à prática da misericórdia. Francisco nos recorda que a Igreja deve ser uma “Igreja pobre para os pobres”, uma expressão que resgata o espírito evangélico de simplicidade, serviço e amor incondicional.

 

Esse enfoque da Igreja nos pobres não é recente. Desde o Concílio Vaticano II, realizado entre 1962 e 1965, houve um renovado compromisso com a missão social da Igreja. Os documentos do Concílio, como Lumen Gentium e Gaudium et Spes, reforçam a ideia de uma Igreja que caminha ao lado dos pobres, uma Igreja que se aproxima de suas necessidades e que luta por justiça e igualdade. Este chamado à solidariedade, no entanto, não se limita ao Concílio, mas ecoa ao longo da história do Cristianismo. São João XXIII, conhecido como o “Papa Bom” e iniciador do Concílio Vaticano II, frequentemente falava da necessidade de uma Igreja próxima dos mais necessitados, enfatizando que a missão cristã é inseparável do amor e do cuidado pelos pobres.

Desde os tempos bíblicos, o povo de Deus foi chamado a ser solidário e compassivo com os mais vulneráveis. No Antigo Testamento, Deus se revela como aquele que “faz justiça aos órfãos e às viúvas e ama o estrangeiro” (Dt 10,18), demonstrando uma predileção pelos excluídos da sociedade. Os profetas, como Amós e Isaías, denunciaram vigorosamente as injustiças sociais e convocaram o povo de Israel a um compromisso com a justiça e a compaixão.

No Novo Testamento, o ministério de Jesus é um testemunho vivo do amor de Deus pelos pobres. Cristo nasceu em um estábulo, viveu entre os humildes e anunciou a Boa Nova do Reino de Deus especialmente aos marginalizados e esquecidos. Em suas palavras, “bem-aventurados os pobres, porque deles é o Reino de Deus” (Lc 6,20). Jesus identificou-se profundamente com os necessitados, afirmando que tudo o que fizermos a um dos seus irmãos menores, a Ele o fazemos (Mt 25,40). Esse ensinamento se tornou o alicerce da doutrina social da Igreja, que desde os primeiros séculos procura cuidar dos pobres, dos órfãos, das viúvas e dos marginalizados.

A tradição da Igreja é repleta de santos e santas que se dedicaram ao cuidado dos pobres, como São Francisco de Assis, que renunciou a toda riqueza para viver entre os mais humildes, e Santa Teresa de Calcutá, que passou a vida servindo os pobres em Calcutá. Esses santos testemunham o chamado cristão de viver o Evangelho na prática, amando e servindo os mais necessitados, e nos inspiram a fazer o mesmo. O Papa Francisco, ao instituir o Dia Mundial dos Pobres, resgata esse espírito da Igreja dos primeiros tempos, que, movida pelo amor a Cristo, encontra nos pobres o rosto de Deus.

A instituição desse dia pela Igreja nos recorda a responsabilidade de todo cristão em promover a dignidade e os direitos dos pobres. O Papa Francisco nos desafia a sair de
nossas zonas de conforto e a sermos “instrumentos de Deus ao serviço da libertação e promoção dos pobres” (Evangelii Gaudium, 187). Esta missão não é uma opção, mas uma exigência da fé cristã. A verdadeira caridade não consiste apenas em dar, mas em escutar, entender e caminhar junto aos necessitados, reconhecendo neles a presença de Cristo.

Neste VIII Dia Mundial dos Pobres, refletimos sobre o tema “A oração do pobre eleva se até Deus” (Eclo 21,5), e somos convidados a considerar a profundidade da oração dos pobres. Como ensina o Papa Bento XVI, a verdadeira caridade deve brotar da fé e da oração, para que não seja meramente um gesto de filantropia, mas uma expressão genuína do amor de Cristo (Deus Caritas Est, 31). A oração dos pobres é um grito de fé que penetra as nuvens e toca o coração de Deus, nos ensinando que eles não são apenas destinatários da nossa ajuda, mas também mestres da nossa espiritualidade, pois nos mostram o caminho da confiança absoluta na providência divina.

Os documentos da Igreja, como o Catecismo da Igreja Católica e a encíclica Fratelli Tutti, reiteram que os pobres não são apenas objeto de nossa caridade, mas um reflexo da bondade de Deus. Em sua pobreza, eles revelam a nossa própria dependência de Deus e a necessidade de vivermos em fraternidade e solidariedade. O Papa Francisco, em Fratelli Tutti, lembra-nos que “os pobres nos ajudam a redescobrir a bondade fundamental da criação e a nossa vocação comum à fraternidade” (FT, 69).

Ao nos prepararmos para o Jubileu Ordinário de 2025, somos chamados a uma resposta generosa ao clamor dos pobres, acolhendo-o como um apelo à conversão pessoal e à
construção de uma sociedade mais justa e solidária. Que este Dia Mundial dos Pobres inspire cada fiel a renovar seu compromisso com os mais necessitados, reafirmando que, no serviço ao próximo, manifestamos o amor de Cristo ao mundo. Na caridade, encontramos o rosto de Cristo, aquele que se fez pobre por amor a nós e que, na sua entrega total, revela a profundidade da misericórdia de Deus.

Renan Dantas – Diocese de Juína